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Na rodoviária do Tietê, dono de banca e gari fazem vaquinhas para ajudar pessoas a voltar para casa

Amigos já ajudaram famílias roubadas e pessoas que acabaram na rua.


Em frente a rodoviária do Tietê, o gari Edvan e o dono de banca Rodolfo se unem para fazer vaquinhas e ajudar as pessoas a voltar para casa (Foto: Fábio Tito/G1)
Em frente a rodoviária do Tietê, o gari Edvan e o dono de banca Rodolfo se unem para fazer vaquinhas e ajudar as pessoas a voltar para casa (Foto: Fábio Tito/G1)


É tão natural para ele que foi difícil convencer o gari Edvan de que o assunto era notícia e fazê-lo posar para a câmera. "Não faço para me mostrar, faço de coração". Em frente à rodoviária do Tietê, maior terminal do país, Edvan e seu Rodolfo, dono de uma banca de revistas, organizam vaquinhas para ajudar algumas pessoas a encontrar o caminho de casa.

Nascido e criado no Mandaqui, Zona Norte de São Paulo, Rodolfo Tenório está há 32 dos seus 62 anos em uma banca em frente ao terminal de ônibus. E, como manda a tradição das bancas, o lugar também é balcão de informações da região. Nesse primeiro contato de muitas pessoas com São Paulo, ele acaba sendo também um confidente. E é aí que o coração do ex-enfermeiro volta a querer cuidar das pessoas.
"Eu acho que a primeira pessoa mesmo que mexeu muito comigo foi uma menina de Brasília que veio com uma criança para passar o Natal na casa de uma amiga. Aí quando ela chegou aqui ela se perdeu e não conseguiu achar essa amiga", conta.
Sem encontrar o único contato em São Paulo e sem dinheiro para voltar, ela chegou a dormir dois dias na rua. "Depois nós nos reunimos, fizemos uma famosa vaquinha, ligamos para a mãe dela e pusemos ela dentro do ônibus para ir embora. Essa eu acho que foi o primeiro mais impactante. Faz mais ou menos uns 15 anos isso e até hoje não me esqueço daquele rostinho de felicidade voltando para casa".
Há dois anos, a vaquinha que Rodolfo já costumava fazer com os motoristas de ônibus ganhou um importante aliado: o gari Edvan Francisco Oliveira, pernambucano de 42 anos, que há 20 mora em São Mateus, na Zona Leste. "Às vezes é ele mesmo [Edvan] que traz [as histórias] aqui e a gente se une, um dá uma parte, outro dá outra parte, e a gente acaba levando muito gente embora", disse o dono da banca.

Em sua infância no Recife, Edvan já viu a mãe chorando por não ter comida para dar aos filhos. "Já passei muita necessidade, sei o que é isso na pele". Um dos casos que ele ajudou a resolver tem cerca de seis meses. Foi o de um baiano, que, segundo Rodolfo, "foi abandonado pela esposa" um tempo depois de chegar em São Paulo e estava na rua. "Dois dias depois [de ter voltado] ele ligou, falei com ele, falei com a mãe dele, a mãe dele me agradeceu muito, mandou muito abraço para a gente. Graças a Deus agora ele está bem".
"O que é as vezes é 50, 60, 70, 80 reais, para nós, que somos trabalhador, é muita coisa, mas para eles que não têm nem R$ 10, é mais ainda", disse o gari, cuja profissão tem salário base de R$ 1.161,34. Com o sorriso largo e o choro fácil, Edvan disse que o sonho é comprar uma casa para a esposa, mas enquanto isso, busca ajudar quem precisa, por acreditar que dessa vida "a gente não leva nada". O varredor, que está sempre com duas meias para evitar que o frio aumente a dor de uma artrose no pé, conta que até uma das meias já chegou a doar para um morador de rua.
Outro caso ajudado pela dupla foi de um jovem casal de Caraguatatuba que chegou com dois filhos pequenos e ia pegar outro ônibus para Minas Gerais. "Quando eles chegaram aqui, eles deixaram a bolsinha deles, com dinheiro, com tudo, no chão, e foram roubados", relembra Rodolfo. "Peguei o dinheiro que tinha aqui nessa gaveta, tinha pouquinho, mas deu para comprar a passagem".
Evangélico, Rodolfo acredita que "alguma força mandada por Deus faz com que a gente tome essa atitude". Da mesma religião, o amigo Edvan também crê que suas ações são guiadas por Deus. "As pessoas têm que esquecer um pouco a maldade e amar mais o próximo. Só isso. Se acordar para o amor, a maldade vai embora, né", disse Edvan.

Rodolfo Tenório está no mesmo ponto, em frente ao Tietê, há 32 anos (Foto: Fábio Tito/G1)
Rodolfo Tenório está no mesmo ponto, em frente ao Tietê, há 32 anos (Foto: Fábio Tito/G1)

Assistência Social na rodoviária

Enquanto varre o entorno da rodoviária e os canteiros da Avenida Cruzeiro do Sul, Edvan aproveita para aconselhar os moradores de rua que vivem embaixo do viaduto. "Eu falo para eles sair dessa vida. Falo para eles irem lá na rodoviária e falar a palavra mágica: 'Me ajuda, por favor'".
Edvan está se referindo a Assistência Social, da Prefeitura, que fica dentro do terminal rodoviário. Em uma pequena sala, o Núcleo do Migrante realiza serviços de fornecimento de bilhetes de metrô, fornecimento de passagens, kit lanche, acolhimento em equipamentos socioassistenciais e outros.
Em fevereiro foram atendidas entre 70 e 80 pessoas por dia e concedidas 128 passagens para diversas cidades do país, informou a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. A emissão das passagens, no entanto, dura até 15 dias, depois que o serviço de assistência social consegue constatar a relação parental do passageiro com o destino escolhido.

Fonte: g1.com

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