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Jair Bolsonaro confirma favoritismo e é o 38º presidente eleito no Brasil


FOLHAPRESS - Jair Messias Bolsonaro, 63, é o novo presidente do Brasil -o 38º da história e o 8º desde o fim do regime militar (1964-85) que ele admira e cujo caráter ditatorial relativiza. O deputado do PSL-RJ derrotou neste domingo (28) o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, do PT.
Bolsonaro liderou a mais surpreendente disputa eleitoral desde o pleito de 1989 a partir de agosto, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde abril por corrupção, foi declarado inelegível.
Haddad, plano B do PT que ocupava estrategicamente a vice de Lula antes de ser lançado candidato, conseguiu chegar ao segundo turno, mas nunca ameaçou a liderança do polêmico deputado.

Ele será o décimo sexto presidente militar da história e o terceiro a chegar ao poder pelo voto direto. Os outros foram Hermes da Fonseca, em 1910, e Eurico Gaspar Dutra, em 1945.
Dono de retórica agressiva e colecionador de polêmicas que lhe valeram pechas que vão de radical a fascista, é o primeiro eleito desde Fernando Collor (1989) a se declarar abertamente de direita.
Suas credenciais democráticas são questionadas constantemente, uma novidade em pleitos presidenciais também desde Collor. Há uma semana, disse que seus adversários deveriam ser presos ou exilados, enquanto vídeo no qual seu filho Eduardo citava ser fácil fechar o Supremo Tribunal Federal em caso de questionamento de uma vitória do pai circulava.
A campanha teve diversos ineditismos. O mais notável foi o atentado a faca que Bolsonaro sofreu durante um ato em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro.
Atingido no intestino, o deputado quase morreu e ficou fora da campanha de rua até o fim da disputa.
Transformou o hospital e, depois, sua casa no Rio em quartel-general de onde gravava vídeos para a internet e recebia apoiadores.
A facada desorganizou a estratégia de seus adversários e permitiu a Bolsonaro não se submeter ao escrutínio de debates televisivos -participou apenas de dois deles no primeiro turno, antes do atentado, e preferiu ignorar o confronto com Haddad mesmo estando em condições clínicas na segunda etapa.
A derrota petista é danosa ao partido de Lula, que de todo modo logrou chegar ao segundo turno e elegeu a maior bancada na fragmentada Câmara dos Deputados. Comandando o eleitorado nordestino e mantendo cidadelas na região e no Congresso, o partido está logrou um triunfo relativo após anos de crise.
A eleição foi também um plebiscito sobre o legado do ex-presidente. Haddad era Lula, como dizia a propaganda petista no primeiro turno, convenientemente alterada para uma ideia fracassada de "Frente Democrática" para a disputa deste domingo.
Bolsonaro quebra uma série de quatro vitórias presidenciais petistas. Mais que isso, encimou um tsunami de direita na eleição, com a expulsão de diversos nomes da esquerda e da política tradicional do Legislativo e também com a ascensão de nomes novos nas disputas por governos de estado.
O antipetismo encarnado pelo deputado transformou os partidos conservadores tradicionais numa terra arrasada. O PSDB, que havia amealhado metade do eleitorado em 2014 e perdido por pouco para o PT, foi praticamente extinto em sua encarnação atual.
Diversos fatores concorrem para explicar o sucesso de Bolsonaro. Sua raiz está nos protestos de rua de 2013, quando o sentimento "contra todos" tomou conta do país e derrubou a aprovação dos principais governantes.
No ano seguinte, a Operação Lava Jato entrou no cenário político, varrendo o PT e aliados antes de chegar ao próprio PSDB.
Em 2016, a recessão comandada por Dilma Rousseff (PT) deu condições políticas para o seu impeachment, e após um sucesso parlamentar inicial, o governo sucessor de Michel Temer (MDB) afundou-se em uma crise política e ética sem fim.
A derrocada de Temer deu oxigênio ao PT, agarrado no discurso de que fora vítima de um golpe.
Ao fim, contudo, Haddad não soube criar um fio narrativo coeso para driblar a acusação de leniência com os erros e alienou aliados em potencial –como Ciro Gomes (PDT), que saiu em terceiro lugar no primeiro turno e recusou declarar voto no petista.
Se a negação ao petismo já era uma forma de protesto contra o sistema político como um todo, ela acabou creditada na conta de Bolsonaro, e não na de figuras tradicionais.
Sua ascensão meteórica foi largamente ignorada pelo mundo político até o fim do ano passado, quando a intenção de voto resiliente atrás de Lula o tornou foco de atenção.
Mas Bolsonaro estava na rua desde 2014. Ou melhor: estava na nuvem, no mundo virtual em que montou uma eficaz e bastante contestada estratégia de promoção.
O uso intensivo de multiplicação de mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e a adesão ao recurso de comunicação direta por meio de redes sociais foram importados dos EUA –não por acaso, Bolsonaro se diz grande fã do presidente Donald Trump.
Assim como o americano, ele é acusado de disseminar fake news e desinformação, o que nega. Como a Folha mostrou na semana passada, o impulsionamento de mensagens negativas ao PT foi comprado por empresários –Justiça Eleitoral e Polícia Federal investigam se houve crime e ligação com a campanha de Bolsonaro, uma sombra que irá acompanhar o novo presidente.
O deputado, por sua vez, só dobrou a aposta ao criticar o jornal –e processar seus profissionais– e a mídia em geral. Promete rever critérios de distribuição de verba publicitária federal.
Em outubro de 2015, quando decidiu pela candidatura, ele começou a percorrer o país para apresentar-se como um improvável "novo", mesmo sendo deputado federal desde 1991 –será o presidente com a mais longa trajetória parlamentar desde José Sarney.
Era recebido em aeroportos por pequenas multidões, que gravavam e divulgavam as imagens em tempo real. Ganhou a alcunha de "mito".
Montado numa estrutura confusa e amadora, cercou-se de militares da reserva e conselheiros de setores conservadores, como ruralistas e evangélicos.
Seu verdadeiro núcleo duro, contudo, é a família. Bolsonaro tem quatro filhos adultos e uma filha de 7 anos. Os três mais velhos integram seu QG: o senador eleito Flávio (PSL-RJ), o deputado federal reeleito Eduardo (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos (PSL).

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