Exército forma 1ª turma feminina de combatentes
Mulheres terão a oportunidade de seguir carreira de oficial e até mesmo lutar em guerras
Diogo Zacarias/ Correio Popular
A aluna Maria Helena de Andrade Ferreira entrou na EsPCEx este ano
2021 é um ano histórico para o Exército Brasileiro. É quando se forma a primeira turma de mulheres combatentes dessa que é uma das três Forças Armadas do País. Elas terão a oportunidade de seguir a carreira de oficial, alcançar a maior patente da corporação, tornando-se generais, e até mesmo ir à guerra lutar nas trincheiras.
Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres puderam ingressar oficialmente no Exército como enfermeiras. Serviram em hospitais, mas não tinham permissão para pegar em armas e lutar em campo.
Desde então, galgaram postos administrativos, como contadoras e jornalistas, e em quadros de saúde, como médicas e dentistas. Mas, só agora, a partir de 2021, estarão aptas a seguir a carreira de oficial da linha militar bélica e até mesmo lutar, em caso de guerra.
A primeira turma feminina de combatentes se forma este ano na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em Resende (Rio de Janeiro), depois de cursar cinco anos da Faculdade de Ciências Militares. Porém, essa história começou em Campinas em 2017, quando 406 alunos, sendo 32 garotas, ingressaram na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) – a única porta de entrada para todos aqueles que querem se tornar oficiais combatentes no Brasil.
Em Campinas, as 32 alunas cursaram o 1º ano da faculdade. O ingresso de mulheres foi considerado tão importante que a cerimônia daquele 18 de fevereiro, na EsPCEx, foi presidida pelo próprio comandante do Exército da época, o general de quatro estrelas Eduardo Dias da Costa Villas Bôas.
O general de brigada Gustavo Henrique Dutra de Menezes, atual comandante de Operações Especiais do Brasil, era coronel de infantaria e comandante da EsPCEx em 2017. Foi ele quem preparou a escola para receber as primeiras alunas e as comandou no 1° ano do curso.
“É uma alegria ter sido o primeiro comandante. A chegada das mulheres na linha bélica do ensino militar é um marco. Ter participado do processo nas fases de preparação da escola, da recepção das novas alunas e ter sido testemunha ocular de todo o desenvolvimento das mulheres na formação são algumas de minhas grandes alegrias na carreira. Aprendi muito. Elas são focadas e maduras, e elevaram ainda mais o nível educacional”, declara Dutra de Menezes.
A aluna Maria Helena de Andrade Ferreira entrou na EsPCEx este ano. “Quando acompanhei a jornada de meu irmão (que atualmente é tenente), me interessei muito pela profissão e sobre os desafios que passamos, pela superação e fazer parte de algo maior. Ser militar é crescer individualmente e em grupo. É abrir mão de seu conforto pra ajudar o companheiro, e eu sempre gostei de me imaginar em um ambiente de trabalho assim, além da união existente entre o bem estar do corpo e da mente, que considero essencial.”
Quanto às principais dificuldades enfrentadas até o momento, Maria Helena cita: ficar longe da família e a dar conta da quantidade de missões, que nunca imaginou ser capaz de realizar.
Há diferença no tratamento entre alunos e alunas? Ela responde: “não existe”.
Julia de Mello Ávila, de 25 anos, integra a primeira turma de mulheres combatentes do Brasil, comandada pelo general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, na EsPCEx em 2017. Ela se forma este ano na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
“Ser mulher em um universo masculinizado demonstra um olhar de igualdade de oportunidades. Homens e mulheres trazem consigo um histórico biológico. O fato de conviverem juntos só tende a somar para a formação”, afirma Julia de Mello Ávila.
‘Características femininas agregam valor ao coletivo’
O general de brigada Paulo Roberto Rodrigues Pimentel, atual comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, comenta: “Não há diferença entre comandar cadetes do sexo masculino ou feminino, a isonomia é um ponto central nesse processo. O que existe, na realidade, é uma adaptação de nossas instalações, procedimentos e instruções, de forma a respeitar as diferenças biológicas existentes. Isso não significa que as cadetes mulheres têm uma formação mais fácil, mas ao contrário, enfrentam desafios enormes e os superam com desenvoltura”.
De acordo com o general, “as principais contribuições do segmento feminino referem-se às características que agregam valor ao coletivo, tais como meticulosidade e responsabilidade, além de elevado espírito de sacrifício, pois as mulheres tendem a buscar maior superação pessoal no ímpeto de bem cumprir as suas missões”.
Superação
As dificuldades enfrentadas pelas mulheres referem-se geralmente ao desempenho físico, pois, mesmo possuindo excelente condicionamento, aspectos fisiológicos como resistência e força normalmente favorecem o segmento masculino, afirma Pimentel.
“Cabe destacar, entretanto, que os desafios que se impõem às mulheres combatentes têm sido superados com grande desenvoltura, especialmente devido ao fortalecimento de atitudes que essas jovens incorporam desde que ingressam no Exército.”
De mesma opinião é o coronel de Infantaria Flavio Moreira Mathias, atual comandante da EsPCEx. “As meninas têm respondido muito bem às exigências, que têm sido progressivas. No futuro, também serão oficiais combatentes e terão dezenas de vidas de subordinados em suas mãos. Assim, devem estar preparadas para essa responsabilidade. Fico muito feliz de ver o crescimento profissional delas, sem deixar nada a desejar”.
Mathias considera um orgulho, como comandante da EsPCEx, participar do processo de inserção das mulheres na linha combatente do Exército. “Digamos que seja uma novidade, mas não vejo diferença. No Exército, sempre nos preocupamos em tratar todos de forma igual. Isso facilita muito, pois a inserção vai ocorrendo de forma natural. É claro que as especificidades da mulher são acompanhadas com atenção, para que o processo se aperfeiçoe cada vez mais”, destaca o comandante da EsPCEx.
Fonte: https://correio.rac.com.br/
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